Por melhores que sejam as intenções, o sistema de devolução voluntária de produtos usados tem resultados discutíveis na maior parte dos casos, salvo se ocorrerem certas condições de diferentes naturezas socioeconômicas, incentivos específicos ou outros aspectos que os tornem mais eficiente.
Tendo em vista que o assunto é complexo e são muitas as variáveis envolvidas, algumas condições facilitadoras que podem existir simultaneamente são analisados a seguir, sem esgotar o assunto.
Condições socioeconômicas que justificam o sucesso de alguns programas de devolução voluntária: casos de sucesso de programas de devolução voluntária são observados geralmente em países de alto nível educacional e de renda, de baixa desigualdade sociocultural, de dimensões geográficas modestas, de alto custo de mão de obra em serviços, entre outros aspectos.
Postos de devolução voluntária logisticamente bem estudados, garantindo adequadas distancias e capacidades locais para o funcionamento do sistema. É absolutamente necessário adequar os pontos de devolução às conveniências do consumidor, ou seja, a quantidade e localização dos mesmos serem acessíveis, caso contrário o sucesso do sistema estará comprometido. Se distancias aos pontos de devolução e sinergias de coletas simultâneas de produtos de naturezas diferentes não forem utilizadas inteligentemente, entre outros aspectos logísticos, o sistema terá pouca chance de sucesso. Vale lembrar que as dimensões geográficas a serem atingidas pelo programa assim como as condições de transporte e a transportabilidade dos resíduos depositados poderão oferecer dificuldades adicionais.
Consumidor tem algum tipo de incentivo pela devolução do produto. Esta talvez seja a mais imediata condição para o sucesso de um programa de devolução voluntária quando condições anteriormente mencionadas não existirem. Astutamente algumas empresas usam um sistema de desconto pela troca de um produto usado na compra de um novo. Algum tipo de bonificação de interesse para o consumidor pode incentivá-lo, produtos complementares como brindes, etc.
Leis ambientais relacionadas à logística reversa pragmaticamente bem elaboradas com condições de penalização. Legislações que determinam, por exemplo, que para a aquisição de um determinado produto é necessário a devolução de um usado ou um certificado de descarte adequado para a compra do bem, podem ser incentivos à devolução voluntária.
Custo da coleta residencial alto e individualizado, compensando o deslocamento e trabalho do consumidor na devolução do produto. O custo da coleta residencial é alto sabidamente, mas em certas regiões, os custos de mão de obra em serviços são nitidamente mais altos e quando a coleta é paga por cada consumidor-cidadão, pode se tornar um incentivo à devolução voluntária, revelando-se mais vantajosa do que o pagamento da coleta residencial individualizada.
O serviço de coleta residencial não coleta produtos duráveis e a penalização para o abandono destes em locais inadequados é severa. Em alguns países a legislação é clara e o que é coletado nas residências é muito claramente especificado. Em alguns casos os tambores usados para a coleta domiciliar são identificados e pagos previamente para cada tipo de resíduo de produtos não duráveis. Penalidades severas são previstas para tentativas de abandono dos produtos usados.
O consumidor não tem condição de guardar o produto usado em sua casa por questão de espaço ou de outra razão. Em regiões em que moradias são muito caras e para produtos de grande porte a guarda pode se tornar um empecilho doméstico e ser um incentivo para se desfazer do bem usado. A acumulação de garrafas vazias e embalagens de plásticos são volumosos, aparelhos duráveis como geladeiras, maquinas, televisão etc. são exemplos de ocupação de muito espaço.
Evidentemente os facilitadores apresentados não esgotam este complexo problema de devolução voluntária, mas contribuem para sua reflexão. Em cidades de maior poder aquisitivo e alto nível cultural estes sistemas funcionam melhor. Garrafas de vidro em certas cidades são devolvidos em locais e recipientes logisticamente localizados de forma a atender as vizinhanças. Nestes casos o programa de coleta ou esvaziamento dos recipientes de depósito é realizado por cronogramas ou por chip inteligente, que gerencia o nível do recipiente.
É notório que nestas cidades mais desenvolvidas os custos de coletas domiciliares são altos e, por ser individualizados, os cidadãos tem interesse em evitar ao máximo ter produtos a descartar.
Em cidades onde não existe coleta seletiva, e muitas vezes nem a coleta de lixo regular, raramente as condições acima examinadas são verificadas e, portanto, o sistema de devolução voluntária é muito pouco indicado.
PROF. PAULO ROBERTO LEITE