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OS DILEMAS DO MERCADO E DA RECICLABILIDADE DE PRODUTOS E MATERIAIS REAPROVEITADOS

O dilema com o qual se defronta o mundo com relação ao reaproveitamento de materiais de uma maneira geral não é de pequena monta, tendo em vista que as quantidades reaproveitadas estão muito aquém do que pode ser considerado aceitável para mitigar os efeitos sobre o meio ambiente.

Como exemplo, de acordo com Mckinsey, The Ellen MacArthur Foundation e World Economic Forum (2018), (Revista Exame: 5/9/2018) o consumo de plástico cresceu 20 vezes em 50 anos, de 15 milhões de ton. /ano em 1964 para 300 milhões ton. /ano em 2014, com estimativas de 600 milhões em 2030. O consumo anual per capita passou de 5 para 40 Kg/pessoa em 2018. Somente 8% da produção mundial é reciclada, com variações que não ultrapassam 15%.

A Logística Reversa de Pós-consumo tem se tornado mais visível nas últimas décadas do século XX, com interesse crescente no século XXI em todas as partes do planeta, visando equacionar o retorno e destino correto de produtos e materiais, contribuindo para a “economia circular”. Esta visibilidade se deve ao exponencial crescimento da quantidade e variedade de produtos com baixo ciclo de vida indo para o mercado, satisfazendo aos seus diversos micros segmentos.

No âmbito da Logística Reversa de pós-consumo, reciclabilidade é entendida como o nível de adaptação de um produto ou material ao equacionamento logístico de seu retorno em todas as etapas, desde a coleta em origens diversas até sua destinação final, ecologicamente adequada e em quantidades economicamente viáveis, permitindo a continuidade destes fluxos.

Nesta visão, a baixa reciclabilidade de grande parte dos produtos e materiais na atualidade influi, também exponencialmente, para a redução da sustentabilidade do planeta, seja pela contaminação direta no meio ambiente ou pelo seu excesso, provocando problemas diversos nos grandes centros urbanos.

Embora estes problemas estejam na pauta da mídia, de universidades, de governos, e da sociedade em geral, existem aspectos que precisam ser examinados, e que se constituem no que consideramos dilemas ecológicos a serem enfrentados pela sociedade.

1º Dilema- Dificuldade de Mercado para produtos reaproveitados

Mesmo em se obtendo reaproveitamentos a altas taxas, o que está longe de ser alcançado para os principais produtos e materiais, existem dificuldades para o escoamento dos produtos e materiais após o seu reaproveitamento.

Materiais reciclados: o mercado para estes materiais constitui-se em sua reintegração parcial na fabricação de outros produtos. Pesquisas tem mostrado dificuldades de diferentes naturezas para reintegração da pequena parcela atualmente reaproveitada. Um avanço nestas quantidades reaproveitadas possivelmente tenderá a aumentar estas dificuldades.

Além da complexidade típica da Logística Reversa de Pós-consumo, a reintegração parcial de pequenas quantidades é devida às características técnicas dos reciclados, que com raras exceções, nem sempre permitem sua utilização total. Malgrado certos incentivos governamentais para a intensificação do uso de reciclados, alguns aspectos nem sempre reconhecidos, como o da concorrência natural com os materiais virgens e do preconceito sobre o seu uso e consumo, não contribuem para o avanço do seu aproveitamento.

Torna-se, portanto, necessário melhorar técnicas de reciclagem e de reintegração e, ao mesmo tempo, animar o consumo para estes materiais, utilizando de forma inteligente o marketing ambiental.

Produtos reaproveitados – reuso e remanufaturados: o seu mercado de destino é o mercado secundário, distinto daquele dos produtos originais.

Pela vastidão de tipos de mercados secundários será difícil generalizações, mas como estes produtos reaproveitados nem sempre dispõem de certificados de qualidade equivalentes aos originais, muitas vezes torna-se impeditivo o seu uso como componente de fabricações.

As observações de pesquisas permitem afirmar que existem mercados secundários de produtos reaproveitados com qualidade compatível, porém sem as devidas chancelas dos fabricantes originais.

Certamente uma das formas de melhorar o mercado para estes produtos reaproveitados seria a participação dos fabricantes no reaproveitamento dos produtos provendo-os de maiores garantias tecnológicas.

2º Dilema – Perda de características dos materiais pelas Reciclagens sucessivas

Reciclabilidade intrínseca de um material é entendida como a sua capacidade de ser reciclado industrialmente várias vezes. Com exceção dos metais em geral, poucos são os materiais que possuem alto grau de reciclabilidade intrínseca, apresentando normalmente perda de suas características técnicas.

Difícil a generalização, pois são diversos o comportamento de materiais, mas com exceção dos metais e alguns poucos materiais, à medida que novas reciclagens ocorrem existem perdas de características irreversíveis nos materiais atualmente utilizados pela indústria, o que torna difícil o seu reaproveitamento sucessivo.

É, portanto, difícil de se prever a utilização intensiva de materiais sem considerar esta dificuldade dos principais materiais utilizados atualmente pela indústria.

Torna-se, portanto, importante o desenvolvimento de materiais que substituam os atuais e que resistam a diversas reciclagens industriais. Certamente muitos laboratórios em todo mundo estão trabalhando no desenvolvimento de novos materiais para torna-los comercialmente viáveis, mas até lá esperamos que novas técnicas e novos materiais apareçam para amenizar estes dilemas!!

PROF. PAULO ROBERTO LEITE

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