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A LOGÍSTICA REVERSA E O POTENCIAL DE EMPREGABILIDADE 1ª parte – Pós-consumo

A redução gradativa de empregos em todas as áreas de atividade humana agrava-se no mundo inteiro, tornando-se uma das maiores preocupações da sociedade moderna. Contribuem para tanto a urbanização acelerada, a mecanização de lavouras, a robotização de indústrias e serviços, e mais recentemente a introdução de tecnologias 4.0 que certamente acelerarão essa tendência.

Embora a tecnologia de (IA) inteligência artificial já seja utilizada em grande escala em serviços, em softwares, em veículos autônomos etc., as tecnologias de IoT (Internet das coisas), tecnologia de impressão 3D, robótica avançada, e outras, avançam mais lentamente e de acordo com especialistas têm alto potencial de redução de empregos.

Esta alta redução de empregos é visível em nosso dia a dia mas a título de exemplo, em 1990 as três maiores empresas da cidade de Detroit nos Estados Unidos tinham 1,2 milhões de empregados e faturamento de US$ 250 Bilhões, enquanto em 2014 as três maiores empresas do Vale do Silício com faturamento semelhante de U$$ 247 Bilhões, têm 137 mil empregados, ou seja 10 vezes menos (Schwab, Klaus apud Manyika, James e Chui,Michael).

A indústria 4.0 e os sistemas de compartilhamento de serviços, poderão oferecer novas atividades e profissões, mas dificilmente compensarão a redução de empregos correspondente. Além disso, exigirão especialistas com novas habilidade e formação específica, demandando certo tempo de realização. Durante esse tempo haverá o que se convenciona chamar de “hiato de empregabilidade”, que deveria estar entre as principais preocupações da sociedade, governo e empresas.

A Logística Reversa tem como objetivo planejar e operacionalizar o fluxo de retorno de materiais e produtos, ainda não consumidos ou já usados na condição de resíduos, procedentes do mercado ou do meio ambiente, para a sua revalorização através de reaproveitamentos diversos, reintegrando-os aos ciclos de negócios ou ciclos de industrialização (Leite,2003,2009,2017).

Embalagens de diversos materiais, plásticos em geral, eletroeletrônicos, veículos, materiais têxteis, químicos, entulhos de construção, móveis, papeis, metais, madeiras, óleos lubrificantes e de cozimento, entre outros, são descartados na natureza com baixo nível de reaproveitamento. Estima-se que mais de 1,4 bilhões de toneladas por ano de resíduos destes produtos e materiais são descartados no mundo.

Considerando que, até os dias de hoje, somente uma mínima fração desta crescente quantidade de resíduos descartados é reaproveitada adequadamente, percebe-se que existe um enorme potencial de atividades para o reaproveitamento de alguma forma deste caudal de resíduos que poderá gerar quantidades de empregos em todos os níveis e em todas as áreas de atividade da Logística Reversa de Pós-Consumo.

No Brasil, de acordo a Abrelpe, no ano de 2018 foram coletados 79 milhões de toneladas e somente 3% foram reciclados, estimando-se que cerca de 74 milhões de toneladas não são coletadas e são descartadas indevidamente em terrenos baldios, riachos, rios, lixões etc. No importante setor de eletroeletrônicos o descarte anual no Brasil é de cerca de 1,5 milhões de toneladas sendo menos e 5% reaproveitados.

Este potencial de empregabilidade pode ser concretizado em empregos nos diversos canais reversos: no reuso de bens duráveis, nas atividades de reparos e consertos, no desmanche ou manufatura reversa, na remanufatura, na reciclagem dos materiais constituintes e na destinação final dos rejeitos. Na área de prestadores de serviços especializados nos sistemas de coletas e transportes diversos, os sistemas de armazenagem, os sistemas de informação ou informatização, e uma série de serviços terceirizados e quarteirizados. Ainda e não menos importante, na área de empreendedorismo as oportunidades são potencialmente maiores, assim como nas áreas de consultoria.

Esta perspectiva de empregabilidade está sendo potencializada, mas ainda de forma embrionária no Brasil, pela Política Nacional de Resíduos Sólidos desde 2010 e mais recentemente pelo crescimento e aplicação das ideias de sustentabilidade de empresas ESG (Environement, Social and Governance) (Ambiental,Social e Governança) que, entre outras virtudes de sustentabilidade, são adeptas da Economia Circular.

É, portanto, necessário desenvolver muito mais do que se tem visto até então para que esse enorme potencial de empregabilidade se efetive. O Brasil precisa de políticas claras e facilitadoras para o desenvolvimento rápido destas áreas para recuperar um colossal atraso, reduzindo o impacto de um dos maiores problemas que a sociedade moderna enfrenta atualmente.


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