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“DRIVERS” DE PROGRAMAS DE LOGÍSTICA REVERSA NO BRASIL

Em minhas inúmeras aulas e palestras sobre Logística Reversa sempre afirmei que todas as empresas que produzem ou comercializam produtos físicos realizam, em maior ou menor escala, processos de Logística Reversa.

Na 1ª edição de 2003 de meu livro Logística Reversa foi definida como: “área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações correspondentes do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.”

Normalmente, com poucas exceções, este fluxo no sentido inverso traduz o movimento de bens físicos entre cliente e vendedor. Na empresa que recebe o fluxo inverso de seus bens comercializados, o impacto deste retorno depende principalmente das quantidades retornadas, dos valores financeiros envolvidos e do impacto na imagem da empresa. Em muitos casos, mesmo pequenas quantidades podem representar impactos importantes, quando a questão de marca ou fidelidade está em jogo.

Decorre que a Logística reversa será implantada de forma específica em cada empresa, considerando os possíveis ganhos em “valor” oferecidos, seja pelo retorno de bens de pós-venda ou de pós-consumo. Conforme a definição, a empresa poderá considerar um ou mais interesse para organizar o retorno de seus bens. Estes “valores objetivados” pela implantação formam o que foi denominado (Leite, 2003,2009,2017) como “drivers da logística reversa” ou “direcionadores da logística reversa”.

A questão que restava responder era: sob que motivos ou “drivers” as empresas implantam seus programas de Logística Reversa no Brasil?

Em uma pesquisa de grande envergadura que empreendi com o título: “Direcionadores (“Drivers”) Estratégicos em Programas de Logística Reversa no Brasil”,  estudei como estes direcionadores se apresentavam em 44 empresas de diversas atividades, com programas de Logística reversa de pós-venda e de pós-consumo.

Em muitos casos analisados a empresa apresentava mais do que um direcionador sendo dado preferência àquele que melhor representava em cada caso.

  

Os resultados de forma resumida:

Driver” Econômico = casos em que a empresa implanta a Logística reversa com o objetivo de alcançar, de alguma forma, um “ganho econômico” na operação.

São os casos mais comuns, em que a empresa tem a atividade de logística reversa inerente ao próprio negócio; busca reutilizar materiais ou produtos provenientes de reaproveitamento por reciclagem ou remanufatura por causa do preço; utiliza a revenda com ou sem conserto de produto não usado; entre outros exemplos.

                      50% dos casos analisados tem esse direcionador 

Na população de 44 empresas atuando no Brasil foi identificado que a metade delas tem o direcionador por ganho financeiro ou econômico, como principal objetivo. Em muitos casos encontramos mais do que um dos direcionadores, porém com predominância do econômico.

“Driver” Serviço ao Cliente = nesse caso a empresa visa se diferenciar no mercado através de serviços de Logística reversa, geralmente de pós-venda, oferecendo serviço de reparo na devolução de produtos ainda não consumidos; assistência técnica cuidadosa; tempo de retorno baixo e conveniente aos clientes, entre outros exemplos.

                        25% dos casos apresentaram este direcionador

Da mesma forma, em alguns casos nas 44 empresas aparece vantagens de imagem como complemento do direcionador principal.


“Driver” Imagem = a proteção ou reforço da imagem corporativa aparece como o direcionar principal na implantação do programa. Proteção de imagem evitando o uso da embalagem da empresa após descarte, evitar o uso indevido de componentes descartados pela empresa na indústria de eletrônicos, entre outros exemplos.

                          10% dos casos analisados

Existe uma pequena probabilidade de crescimento das práticas movidas por este direcionar no futuro à medida que as empresas se conscientizem de sua importância como comprometedor de sua imagem e as redes sociais forem mais atuantes neste sentido.


“Driver” Legal = neste caso o direcionador empresarial da implantação do programa de Logística reversa é o de obedecer a uma legislação ou antecipar-se a ela. Casos em que a legislação responsabiliza as empresas da cadeia de suprimentos pela implantação da logística reversa; no caso de produtos perigosos; na recepção de produtos retornados; entre outros exemplos.

                       5% dos casos apresentaram esta característica 

Este driver deve crescer ao longo do tempo pois as legislações tratando das obrigações legais sobre a Logística reversa têm aumentado de forma significativa.

Driver” Ecológico  = caracteriza-se pelo exercício voluntário da empresa na prática de responsabilidade ambiental, redução do impacto de seus produtos ao meio ambiente, etc.

                        



5% dos casos analisados 

Confesso que foi uma surpresa encontrar empresas nesse caso. Acredita-se que não haverá alteração nesse quadro ao longo do tempo.

 

A pesquisa mostrou que o interesse de lucratividade e de curto prazo, trazidos pelos drivers econômicos e de prestação de serviços são os mais observados, enquanto os demais aparecem com pequena participação na análise de 44 casos de implantação de logística reversa no Brasil. Uma pesquisa mais recente poderia talvez indicar alguma mudança nesse panorama. 

 

Ref:

Leite, Paulo Roberto, “Logística Reversa – Meio Ambiente e Competitividade” edições 2003 e 2209, edit. Pearson Education, São Paulo

_________________ , “Logística Reversa – Sustentabilidade e Competitividade” edição 2017, edit. Saraiva, São Paulo.

__________________, “Direcionadores (“Drivers”) Estratégicos em Programas de Logística Reversa no Brasil”, SIMPOI da FGV 2006(Anais do IX Simpósio de Administração da Produção, Logística e Operações Internacionais – FGV) e Revista Acadêmica Alcance,2012.

 

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