Desde a primeira revolução industrial, no final do século XVIII, a produção e consumo são orientadas pela Economia Linear, que significa, na visão produtiva (extrai-usa-descarta) e na visão do consumo (compre-use-descarte). No entanto, é a partir dos anos 50 do século XX, após a II Guerra, que se tem a forte intensificação da produção, com a introdução de novas tecnologias e sistemas industriais.
Um expressivo crescimento da população mundial de 2,5 bilhões em 1950 para 8,0 bilhões em 2022, certamente explica o correspondente aumento de consumo desta quantidade e variedade de produtos, e como consequência o crescimento, no mesmo ritmo, de produtos e materiais descartados.
Embora outros materiais contribuam para estas quantidades exponenciais sendo descartadas no meio ambiente, é notável a importância dos plásticos nesse total.
De acordo com o instituto The Ellen MacArthur Foundation e do World Economic Fórum: “O consumo de plástico cresceu 20 vezes em 50 anos, de 15 milhões de ton. /ano em 1964 para 300 milhões ton. /ano em 2014, com estimativas de 600 milhões em 2030. O consumo anual per capita passou de 5 para 40 Kg/pessoa em 2018. Somente 8% da produção mundial é reciclada, com variações que não ultrapassam 15%”.
Ainda no ano de 2024 assiste-se à manutenção de um crescimento exponencial da quantidade de plásticos produzidos e utilizados pelas industriais de diversos setores empresariais, e as mesmas baixíssimas taxas de reciclagem. O enorme descarte, sem o devido reaproveitamento (ou reciclagem), constitui um dos maiores problemas atuais, comprometendo fortemente a sustentabilidade ambiental de nossos dias.
A “reciclabilidade técnica” de um material pode ser caracterizada pela sua aptidão a ser reciclado diversas vezes sem perder totalmente suas características originais. Enquanto os metais exibem alta reciclabilidade técnica, podendo ser reciclados inúmeras vezes, os plásticos perdem suas características após reciclados pela primeira vez, com algumas poucas exceções.
Não confundir esta definição com da “reciclabilidade logística”, que inclui a aptidão do material ou produto descartado de ser coletado, armazenado e reciclado, para o que concorrem muitos outros fatores, na maior das vezes com os custos de natureza logística ou de reaproveitamento.
Desta forma, os metais apresentam excelente reciclabilidade técnica, sendo reaproveitados praticamente a 100%, e em função desta qualidade apresentam preços de pós-consumo que ensejam alta reciclabilidade logística. Alguns metais são disputados pelo seu alto valor como material secundário.
Por outro lado, papeis, vidro, óleo lubrificante, entre outros exemplos, apresentam reciclabilidade técnica média, com taxas mais modestas de reaproveitamento, na maior parte dos casos pelas dificuldades de custos logísticos.
No entanto, os plásticos comuns apresentam baixíssimo índice de reciclabilidade técnica e não encontram mercado de reutilização, não sendo valorizados, apresentando níveis muito baixos de reaproveitamento, conforme visto anteriormente.
Davis Allen PHD e Naomi Spoelman, coordenaram um estudo publicado em 2024 pelo Center for Climate Integrity, coletando dados desde 1950 sobre o comportamento mercadológico e publicitário das empresas petroquímicas, indústrias de plástico e suas associações nos Estados Unidos, do qual salientamos alguns aspectos.
“Depois de realizar uma revisão de 10 anos sobre reciclagem de plástico, em 1991 nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) concluiu que: “parece que atualmente apenas dois tipos poderiam ser considerados para transformação em objetos de alta qualidade, PET e HDPE”, especificamente aqueles provenientes de garrafas. Isto continua verdadeiro mais de 30 anos depois” (tradução livre de © 2024 Center for Climate Integrity)
“Para proteger os seus mercados, as empresas petroquímicas iniciaram um esforço coordenado de décadas para vender ao público a reciclagem de plástico – apesar de saberem que não era técnica nem economicamente viável. As empresas petroquímicas e a indústria dos plásticos continuam hoje a empregar esta mesma estratégia, utilizando uma campanha multifacetada de relações públicas para vender “reciclagem avançada” ao público. No entanto, um conjunto crescente de evidências confirma que a maior parte da reciclagem de plástico – sob qualquer forma – não é viável agora e nunca foi ” (tradução livre de © 2024 Center for Climate Integrity)
Evidentemente o caminho para a sociedade é a busca de materiais que tenham melhor desempenho face à reciclagem e que substituam os plásticos, já que a interrupção de sua produção nos parece difícil por envolver enormes valores e diversas redes industriais.
Isto não justifica, no entanto, o crescimento acelerado de utilização de plástico que se observa em todas os setores industriais. Toda a energia, e enormes volumes financeiros, que tem sido gasto pelas empresas fabricantes e utilizadoras de plásticos para tentar fazer acreditar na possibilidade de reciclagem do plástico, seja por vias mecânicas ou químicas, deveriam ser dirigidos para pesquisas de outros materiais que agridam menos ao meio ambiente.
Ref. Davis Allen, PHD , Naomi Spoelman et all; “The Fraud of Plastic Recycling” ; Center of Climate Integrity; USA; https://climateintegrity.org/uploads/media/Fraud-of-Plastic-Recycling-2024.pdf; climateintegrity.org/plastics-fraud
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