POTENCIAL DE EMPREGABILIDADE DA LOGÍSTICA REVERSA (2ª parte Pós- venda).
A redução de empregos propiciada pela introdução de novas tecnologias não é uma novidade de nosso século, pois desde que as máquinas começaram a substituir o trabalho manual, durante a chamada revolução industrial do século XVIII, este fenômeno é mais visivelmente observado.
No entanto, a preocupação com a redução acelerada de empregos é mais recente e tem seus motivos principalmente relacionados ao avanço rápido de tecnologias digitais, em particular a Internet, a robótica, a Inteligência artificial (IA), que permitiram reduções importantes nos empregos em todo mundo desenvolvido e em vias de desenvolvimento, como já mencionado na 1ª parte deste artigo, quando se tratou da empregabilidade na área de pós-consumo da Logística Reversa.
Embora estas tendências sejam observadas em todos os setores de atividades atuais, existem áreas que ainda apresentam excelentes oportunidades de geração de empregos. Entre estas, além da já comentada na 1ª parte deste artigo, destaca-se a atividade da Logística Reversa de Pós-venda, que equaciona logisticamente o fluxo de retorno de produtos ainda não consumidos, por diferentes motivos, reintroduzindo-os ao ciclo de negócios ou eventualmente ao ciclo produtivo, na definição de Leite (2013,2009,2017).
O crescimento exponencial das quantidades de produtos retornando do mercado, devido ao aumento do consumo trazido pela globalização mundial, gera por consequência um campo de empregabilidade nas diversas áreas envolvida, e em todos os seus níveis hierárquico. Este aumento de retorno pode ser creditado, principalmente, à complexidade operacional na gestão dos estoques decorrente da grande quantidade e variedade de modelos indo para o mercado, às vendas pelo e-commerce, às constantes mudanças de modelos nos pontos de venda exigindo liberação de espaço para os modelos mais recentes, à dificuldade de entendimento dos manuais dos produtos, aos defeitos intrínsecos, às falhas operacionais decorrentes das quantidades tratadas, entre outros motivos.
Assim, o retorno de mercadorias do mercado exige quantidades crescentes de empregos em todas as cadeias reversas, seja no planejamento das operações, no transporte de retorno, na armazenagem ao longo das cadeias, na recepção, separação e seleção de destino no fornecedor, na redistribuição dos produtos reaproveitados ou destinados a outros mercados, no controle e coordenação das operações, entre outras atividades.
Embora as quantidades de mercadorias retornadas, ainda não consumidas ou usadas, sejam uma fração daquela que vai para o mercado, o nível de trabalho a elas associado é comparativamente muito maior. Estatísticas mostram taxas de retorno de 3% a 7% do mercado em geral, mas, excepcionalmente na área de e-commerce estas taxas são bem maiores, variando até 10% no Brasil e 30% nos Estados Unidos.
Vale lembrar que a logística tradicional utiliza 3 operações principais para o envio de mercadorias ao mercado: armazenagem, expedição e transporte de distribuição, trabalhando em geral com produtos de mesma natureza, cargas normalmente paletizadas e organizadas no modal de transporte.
Por outro lado, a logística reversa de pós-venda exige em média cerca de 12 operações, trabalhando com mercadorias de diferentes naturezas, diferentes dimensões e fragilidade, normalmente sem a embalagem original, não paletizadas, entre outras peculiaridades, exigindo maior atenção e pessoal especializado.
Requer operações de armazenagem dos produtos a serem retornados nas áreas do varejo, expedição destes produtos para os fornecedores, organização por parte dos fornecedores para as coletas desses produtos, transporte e eventuais consolidações de retorno, recepção das mercadorias no fornecedor ou a quem este confiar, análise e seleção de destino dos produtos, resultando as diversas possibilidades de operações subsequentes a que são submetidos os produtos retornados:
· Quando o produto oferece condições de uso normal, é realizada a reembalagem e armazenagem no fornecedor para venda no mercado original,
· Pela necessidade de pequenos reparos ou conserto, normalmente será destinado a mercados secundários, leilões presenciais ou virtuais, outlets, entre outros, caracterizando, neste caso, a redistribuição dos produtos reparados.
· Se considerado sem possibilidade de uso, o destino será o desmanche eventual para reaproveitamento de componente.
· Finalmente a possibilidade de reciclagem para reaproveitamento dos materiais constituintes.
· Redistribuição física com transportes e movimentações diversas para os destinos escolhidos.
· Coordenação de todas as operações pelo fornecedor de forma a garantir o melhor reaproveitamento econômico dos produtos retornados. Envolve a negociação de parcerias com empresas especializadas nas operações citadas.
Observa-se, portanto, que embora possa parecer pequena a quantidade de retorno, o trabalho a ser executado oferece excelentes oportunidades de empregabilidade em mercados que tem crescido fortemente. Como exemplo desse crescimento exponencial de trabalho o e-commerce é um dos mais evidentes em todas as partes do mundo.
No Brasil, esse mercado ainda representa valores baixos em relação ao varejo físico e níveis modestos quando comparado às vendas em países desenvolvidos. No entanto, as vendas no país que eram praticamente zero no ano 2000 atingiram o valor de 75 bilhões de R$ no ano de 2019, e marcas acima de R$ 100 bilhões após a pandemia.
A Logística Reversa revela-se, desta forma, uma excelente fonte de aumento de empregabilidade em seus diversos campos de atuação.
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